Monday, March 30, 2009

CAMINHAR NA BELEZA

(Traduzido por Ana Spinelli)

Tenho estado um tanto deprimido, ultimamente. Acredite: é realmente possível sentir-se estranho no paraíso. E me refiro a uma estranheza real, daquele tipo que deixa a gente fazendo caretas.

Twisted

Deve ter a ver com fato de que ando pensando demais - o que é verdade, mas isso parece ser parte da minha natureza. Será que é por causa da opinião que eu tenho sobre o desenrolar dos fatos?

As coisas estão no seguinte pé:



Aqueles de vocês que me conhecem, sabem da minha trajetória como o tipo de cara que defende a floresta e é contra o materialismo. Estou morando em um dos lugares mais especiais do mundo enquanto ele entra em uma nova era de desenvolvimento material. É um desenvolvimento legítimo e merecido, mas que provavelmente terá enorme impacto na natureza. Como sair da pobreza, alcançar níveis razoáveis de conforto e também salvar a floresta? De certa forma, abracei a causa de forma pessoal; como dizem meus amigos índios, minha "cesta está cheia de pedras pesadas".


Primeiro, deixem-me descrever o cenário...

Esta região da Amazônia é conhecida por cientistas através da sigla MAP porque é composta das seguintes unidades políticas: Madre de Dios (no Peru), Acre (no Brasil) e Pando (na Bolívia).

A região geral é um dos maiores centros de biodiversidade no mundo e, espantosamente, é onde estão algumas das últimas tribos de povos indígenas que nunca entraram em contato direto com a sociedade moderna. E tudo isso ainda permanece ali porque não há pontes atravessando os grandes rios, de forma que estradas vindas de vários lugares terminam por lá. Fim da estrada, fim do mundo (do mundo do comércio, pelo menos). A menos que você seja traficante de cocaína, não há comércio significativo através das fronteiras. Essa região "selvagem" tem sido habitada por "tribos isoladas", seringueiros solitários e uns renegados.

É também o lugar em que Raimundo Irineu Serra e Chico Mendes descobriram e elaboraram suas missões espiritual e ambiental, respectivamente. Por coincidência, esses dois acreanos famosos nasceram na mesma data: 15 de dezembro. Hoje em dia, o Acre não pode mais ser considerado "fim do mundo", e as histórias desses dois homens são parte da grande difusão cultural que vem se desdobrando a partir da região. A revista Rolling Stone Brasil por exemplo, publicou recentemente uma matéria sobre a minúscula Fortaleza. .

Hoje em dia tudo parece ter sido tomado pela epidemia do desenvolvimento. Uma nova ponte foi inaugurada perto de Assissi, próxima ao ponto em que convergem Peru, Bolívia e Brasil. Quando a estrada que cruza o Peru for terminada, formará a primeira rota intercontinental de comércio. É fácil perceber as mudanças, conforme surgem os sinais de globalização em modernização. Mesmo para alguém que visita a região pela primeira vez, a impressão de “algo novo” prevalece. Formigam o comércio e os empreendimentos. E me pergunto: qual será o impacto disso na floresta?

Meu primeiro encontro com a floresta Amazônica foi há alguns anos atrás quando visitei a comunidade de Santo Daime do Mapiá (que fica no rio Amazonas, mas o acesso é feito pelo Acre). Cheguei ali maravilhado e exausto; maravilhado porque aquela era minha primeira visita à Amazônia, e exausto porque nas duas semanas anteriores eu havia viajado dos EUA para Brasília e depois até o sudeste do Brasil para participar de uma intensa cerimônia de quatro dias, seguida imediatamente de mais quatro dias de uma viagem até o Mapiá que incluiu ônibus, avião, táxi e barco. A jornada através do Acre foi a primeira vez em que pude testemunhar a incrível destruição infligida na floresta no passado da região. Me lembro da sensação estranha de estar ao mesmo tempo agradecido por estar lá e também incrivelmente triste. Aquilo me confundia.

Há uma história paralela, nesse ponto:

Na minha primeira manhã no Mapiá, acordei ao raiar do sol, tomei café com todo mundo e rumei para a floresta para coletar folhas de Rainha para a preparação do sacramento Daime. Trabalhei por apenas 20 minutos sob o sol já quente da manhã quando repentinamente comecei a passar mal e vomitar. Era como se todo o estresse dos dias anteriores estivesse sendo expulso de mim. Meus amigos me ajudaram a voltar para a casa onde estávamos ficando e me deitaram em uma rede, de onde eu levantava só para vomitar. Era impossível manter no estômago qualquer coisa – comida ou água –, e foi assim até o dia seguinte.

Quando eu já dava sinais de séria desidratação, meus amigos chamaram Francisca Corrente, uma magnífica curandeira mapiense. Ela chegou e me deu para beber um pouco de Daime, que imediatamente vomitei, claro. Então ela me pediu para respirar puxando o ar bem devagar e começou a cantar suavemente um de seus lindos hinos, aquele que fala da borboleta azul – a espetacular Morpho Azul que habita as florestas tropicais. Ela repetiu o hino várias vezes por o que me pareceu ser um longo tempo. Aos poucos senti a calma retornando e alcançando fundo o meu corpo.

Quando fiquei tranquilo, ela começou a falar comigo através de um tradutor. Disse que eu estava muito aberto e que havia agora muitos “seres da escuridão me seguindo e tentando causar confusão”. Ela disse que eu iria percebê-los na forma de “pensamentos difíceis”. E continuou, dizendo que havia “cantado o hino para dentro do meu corpo”, fazendo-o deslizar para o meu interior a cada respiração profunda; agora ele estaria sempre lá, como um guia. “Quando você se sentir confuso”, ela disse, “procure a borboleta azul e siga-a. Ela voa pelo caminho certo, o caminho de Juramidam”.

Na noite seguinte compareci à minha primeira sessão de Santo Daime no Mapiá, onde tomei um Daime bem forte. Sentei-me, fechei os olhos e tive uma visão que chegou quase que imediatamente. Era uma linda borboleta azul. Eu a observava e me fascinava com o movimento de suas asas que pareciam seguir um padrão especial: batiam três vezes e então a borboleta entrava na floresta. Ela estava seguindo a batida dos maracás que estabeleciam o ritmo do hinos sendo cantados na cerimônia. Sim: ela estava seguindo o caminho de Juramidam.

Hoje me sinto, de certa forma, similarmente aberto e até hipersensível sob o impacto do poder de limpeza do Daime forte aqui da Fortaleza e de suas cerimônias poderosas. E frequentemente me sinto vulnerável, boquiaberto e completamente confuso. É difícil “saber onde eu estou”.

Por exemplo: aqui estou, sentado ao compuador,

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em algum lugar perto de lugar algum, digitando um artigo para um público mundialmente disperso e distante da floresta amazônica. Conforme digito, observo um mundo primordial de verde, uma verdadeira vista verde; mas meus pensamentos vagueiam pelas contradições da existência moderna. Meu coração se enche de amor pelas florestas e seus povos. Minha mente está obcecada com os desafios de se alcançar uma harmonia entre os seres humanos e o mundo natural. Acostumei-me a conversar sobre essas coisas pela Internet; mas estou agora na zona Inter-Not-Yet [trocadilho em inglês que significaria algo como: “Inter-Não-Ainda”, ou seja, a Internet ainda não chegou na região - NT].

Então, de tempos em tempos, viajo para Rio Branco para passar um tempo online na biblioteca pública da cidade, um prédio equipado com ar-condicionado e tecnologia digital de ponta (claramente resultado do desenvolvimento e da modernização econômicos).

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Ao navegar pela Internet, leio que o presidente Lula anunciou um “pacote de incentivos econômicos”para o desenvolvimento de infra-estrutura (mega-estradas e projetos de hidrelétricas) no interior (ou seja: Amazônia e Cerrado) na expectativa de barrar os efeitos negativos da crise econômica mundial. Em outra reportagem, leio que a EMBRAPA (mundialmente reconhecido instituto brasileiro de pesquisas em agricultura tropical) está lançando um programa de emergência para desenvolver novas variedades resistentes à seca, como preparação para as possíveis consequencias do aquecimento global. Em outro lugar, leio que não dá para esperar ações significativas por parte do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) porque seu orçamento é de menos de 200 milhões de reais, enquanto o do Ministério da Agricultura chega a 22 bilhões. Minha amiga Kelpie me manda um link para um relatório dizendo que grande parte da floresta amazônica pode vir a desaparecer nas próximas décadas por causa da mudança climática. Em um fórum online, debato com ela se o incentivo ao poder de decisão feminino e a diminuição dos índices de crescimento populacionais poderiam diminuir drasticamente o impacto ecológico humano no planeta?

Nenhuma das alternativas acima me parece grande coisa.

Então volto para a Fortaleza, onde até mesmo minha localização física agora parece uma metáfora para o enorme desafio que são o desenvolvimento e a sustentabilidade. De certa forma, a casinha que estou construindo está simbolicamente situada em meio à contradição.

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De um lado está a “Fortaleza central” com as áreas de convivência e centro de visitantes

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e também sua “zona industrial”, com fogão a lenha, garagem, um novo reservatório de água e “chuveiros públicos”

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Do outro lado, a vista da janela acima do meu computador mostra a “zona de agricultura” com plantações mistas de banana, milho, abóbora, arroz, mandioca, etc.

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A vista termina em um horizonte criado por uma grande parede de floresta, uma fronteira.

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Mas hoje em dia a fronteira florestal vem encolhendo de forma alarmante no mundo todo. Claro: não há desmatamento na Fortaleza, mas é impossível para mim estar aqui sem pensar no impacto devastador que os seres humanos vêm tendo sobre o planeta e suas florestas. O consumo exacerbado do pós-Segunda Guerra e a sanha do mundo industrial por combustíveis fósseis não têm paralelo em toda a história da humanidade. As estatísticas mundiais são assustadoras. Metade de todas as florestas primárias do planeta foi desmatada desde 1950. E hoje o desenvolvimento econômico e a modernização vêm trazendo o poder de compra a populações que antes eram pobres demais para consumir.

NÃO, aqui nós não exploramos a terra e nossas melhorias materiais são em escala muito reduzida. Mas quando eu as multiplico pelas milhões de pessoas que vêm entrando no novo ciclo de desenvolvimento material mundial, posso dizer que não é algo muito animador para a Terra e para as matas. De fato: às vezes me sinto como se estivesse no coração espiritual do mundo e na barriga do monstro, sendo o monstro a nossa natureza humana coletiva que não pára de se expandir e consumir e desperdiçar.

Como eu disse, somos bastante pequenos, aqui. A eletricidade chegou há dois anos e temos agora umas geladeiras novas, itens elétricos de cozinha, TVs e, é claro, meu computador. E todos comemos carne: uma variedade brasileira de carne vinda de gado criado solto no pasto, alimentado com grama e sem muitos aditivos químicos, o que é melhor para a saúde e não tão bom para a floresta (o Greenpeace publicou recentemente um estudo mostrando que 80% das terras desmatadas na Amazônia nos últimos 20 anos são hoje usadas para criação de gado e produção de carne.) E, sim, minha casa é feita de madeira. Há vários exemplos que eu poderia dar, mas, no fim das contas, a verdade é que ninguém aqui vive naquele nível ecológico de consumo e ativismo dos meus amigos lá do Oregon: um modo de vida politicamente correto do tipo “salve a floresta”, com consciência ambiental e estilo natural e orgânico segundo o qual a simplicidade é bela. Não chega nem perto disso.

Mas me preocupo seriamente sobre o caminho por que estamos sendo todos levados pelas forças coletivas do desenvolvimento econômico e material. Por isso, disparou algo dentro de mim quando Saturnino disse:

“Lou, gostaria que você documentasse as coisas que estamos construindo e todo o desenvolvimento que estamos trazendo. É importante que as pessoas entendam quanto trabalho dá criar um espaço físico que possa receber visitantes e oferecer cerimônias espirituais. As pessoas quase nunca entendem que há muito mais questões envolvidas do que apenas fazer e servir Daime e conduzir sessões espirituais”.

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Mas temo que as palavras dele tenham cutucado os meus medos. É claro que foi um pedido perfeitamente apropriado e razoável, mas desencadeou uma rebelião dentro de mim. Eu pensava algo como: “Opa... Eu sou uma voz para a floresta, uma voz de certa forma até um pouco espiritual. Não sei como ser uma voz para o desenvolvimento material. Não sou esse tipo de narrador. Como é que fui arrumar essa função? Sou muito mais ajudar a desenvolver programas de educação ambiental ou trabalhar e algum projeto inovador sobre sustentabilidade”.

Então Saturnino me mostrava o solo arado recentemente perto da plantação de abacaxi

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ou o chão limpo de vegetação no jardim de Rainhas, ou o enorme gramado da área de convivência, e dizia: “Não é lindo?”, e eu pensava: “Opa... Gramados não são lindos. São uma guerra contra a natureza. É só ver a quantidade de tempo, combustível e trabalho despendidos para mantê-los”. Mas depois eu percebia que havia uma razão para os gramados.

Esse mato tropical é alto

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e abriga várias criaturas. Pode haver de tudo morando ali...



Crianças brincam e pessoas acampam nessas áreas, e muitos passam um bom tempo coletando folhas no jardim de Rainhas. Tornar essas áreas humanamente acessíveis, seguras e atraentes também é lindo. Isso é certamente verdade, mas o narrador em mim não estava nem um pouco inspirado. Como poderia eu, um dos pioneiros do idealismo ecológico, contar essa história? Era mais um dilema.

Na verdade essas tensões vêm aumentando desde que cheguei no Brasil e parecem ter chegado ao ápice quando comecei meus “desenvolvimentos” na Fortaleza. Mas tem sido difícil para mim a inspiração. Não tenho publicado fotos novas na internet, e isso me faz sentir meio mal com relação ao meu desempenho como “fotógrafo oficial da Fortaleza”. Cheguei até a pensar se eu deveria mesmo estar aqui. Estava desencorajado e começando a não ver mais saída para a situação.

No último sábado fiz o que normalmente faço quando estou triste: saí em uma longa caminhada. Afastei-me e rumei para a estrada de terra que liga com a rodovia principal.

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E vi a solitária castanheira.

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É prática comum deixar as castanheiras em pé durante o desflorestamento, e elas acabam se tornando monumento ao passado, seus enormes galhos projetando-se acima do que já foi a copa de uma densa floresta – uma floresta que foi ao chão.

Por alguma razão pensei no último verso do hino final do Mestre Irineu:

Meu corpo na terra fria
Desprezado no relento
Alguém fala em meu nome
Alguma vez em pensamento


Quando eu morava nos Estados Unidos, fui uma dessas vozes, que falavam não pelo movimento do Santo Daime, mas pelo movimento em prol da floresta. De fato, ainda anseio por ter esse tipo de voz. Me senti muito triste.

Caminhei por um bom tempo e não retornei à Fortaleza até o entardecer. Quando cheguei, as pessoas disseram: “Vamos, Lou. Todo mundo está se reunindo na casa do Padrinho. Nós vamos cantar as orações”. Bem, eu simplesmente não estava afim. Estava com calor, suando e precisava de um banho, e realmente não queria estar com pessoas. Só queria entrar debaixo do chuveiro e ficar quieto em casa, e foi o que eu fiz. Mas os pensamentos vieram com tudo e fui fazer o que normalmente faço quando quero escapar: me afogo em trabalho. Para mim, isso significa sentar no computador e processar fotos. Quando o primeiro grupo ficou pronto, decidi me divertir um pouco fazendo arte no Photoshop. Apesar da presença de visitantes e parentes de fora na comunidade, fiquei sozinho naquela noite.

E os pensamentos não paravam. Pensei: “Caramba. Finalmente volto para casa para ficar com minha família e descubro que não consigo falar com ninguém. A barreira da linguagem é enorme, e todo mundo está sempre tão ocupado trabalhando que provavelmente ninguém teria tempo ou vontade de sentar-se com um velho aposentado e ‘apreciar a natureza’ como se estivesse em um banco de parque enquanto discute ‘os insuperáveis problemas do mundo moderno’”. Me senti muito sozinho. “Talvez fosse diferente se eu simplesmente tivesse um amigo com quem pudesse passar o tempo”, pensei.

No dia seguinte recebi a visita do Edson Alexandre. Ele me parece uma pessoa cheia de amor e luz. Sempre me sinto honrado quando ele vem me visitar. Seu papel na comunidade espiritual é importante e ele traz regularmente hinos maravilhosos à Doutrina em expansão do Santo Daime. Por exemplo: no vídeo abaixo, ele está apresentando um novo hino. Chama-se “Luz, luz, luz”.



O Edson não fala inglês, então não pudemos conversar muito, mas eu sei que ele adora ouvir música. Botei para tocar alguns MP3 armazenados no computador e gravei um CD com os álbuns de que ele mais gostou. Realmente adoro observar a forma como ele se senta por longos períodos na minha varanda aproveitando a vista para a floresta. Sem muitas palavras, não deixa de ser um fantástico compartilhamento. Eu me senti menos solitário. Talvez as coisas não fossem tão ruins quanto eu pensava.

No dia seguinte recebi a visita de Polidoro, de 9 anos de idade. Ele adora a natureza e sempre traz seus passarinhos de estimação para o caso de eu querer fazer um videoclipe. Ele tem verdadeira fascinação com o computador. Em seu comportamento calmo, mas intensamente atento, postou-se em silêncio atrás de mim para ver em que eu estava trabalhando. Eu ainda não tinha terminado de melhorar a imagem da noite anterior, e aplicava alguns filtros de Photoshop.

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Perguntei para ele: “Você gosta?”, e ele fez um forte SIM! com a cabeça. Então olhei pela janela e falei: “Mas eu acho a natureza muito melhor, o que você acha?”

Um sorriso despontou em seu rosto moreno e meio sujo, e seus olhos eram dois pontos de luz.

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Então outra memória atravessou a minha mente… Alguns anos atrás, meses depois que a filha mais nova do Murilo nasceu, perguntei: “Como é ser um pai trazendo ao mundo uma criança em tempos tão difíceis?” Ele pensou por uns instantes e então disse quietamente, quase num murmúrio: “Lou, as crianças são a nossa esperança”.

Voltei ao presente e perguntei a Polidoro se ele gostaria de explorar a natureza comigo, e acrescentei: “Talvez eu possa ensinar um pouco de inglês para você e você poderia ser meu professor de português. O que você acha?” Ele deu outro de seus fantásticos sorrisos e estendeu sua mão para apertar a minha. Acho que encontrei meu amigo.

O Padrinho Luiz adora dizer, rindo, que “a simplicidade é o caminho da tranquilidade emocional”

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e o lema deste centro espiritual diz que: “A Humildade é o Símbolo da Nobreza”.

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Mesmo assim, aqui estava eu ainda me perguntando como ser humilde e simples. Minha voz interior respondeu: “Você poderia se juntar à raça humana e admitir que realmente não sabe nenhuma das respostas para os grandes dilemas do desenvolvimento sustentável. Talvez compartilhar as fotos que tira das belezas que você descobre na natureza e no ambiente humano criado em torno de si seja tudo o que pode fazer agora”.

Sem dúvida parecia a coisa certa. Voltei de meus pensamentos e olhei para fora a tempo de ver uma borboleta azul passar voando pelo meu pequeno “quarto com vista”.

Abaixo está a outra janela com vista digital, uma sequencia de fotos das belezas da Fortaleza – tanto as naturais quanto as criadas pelas mãos humanas.



Então como harmonizar as pessoas e a floresta? O que é mais importante: natureza ou cultura? Essas questões polarizadoras agora me parecem fonte de grande parte da minha confusão mental. A simples verdade é que a natureza é a própria base de nossa existência, e a cultura cria as escolhas de como conviver com a natureza. A verdade emergente e desafiadora é que, nesses tempos atuais de crise ecológica, a cultura e a natureza irão levantar-se ou cair juntas. Assim como as pessoas e criaturas! Tenho esperanças de que a Fortaleza seja um desses lugares em que podemos aprender um pouco sobre como nutrir uma saudável reconexão – com o espírito, com a cultura, com a natureza e uns com os outros.

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É verdade que é preciso uma quantidade considerável de trabalho para criar, manter e continuar expandindo a Fortaleza. Muito já foi alcançado, muito há que ser feito. É sempre um aperfeiçoamento, um trabalho de amor. Talvez você gostaria de vir fazer uma visita e sentar na minha varanda. O que continuo percebendo é que o verdadeiro trabalho que nunca termina é o de seguir o próprio coração. É isso que estou aprendendo a fazer.

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Eu estava aqui sentado junto ao computador e à paisagem, dando os toques finais neste texto, enquanto ouvia o lindo hinário de Rosana Cristiane Pereira. Assim que começou o hino “Eu chamo Juramidam”, uma borboleta Morpho Azul passou voando (sem brincadeira!). Acho que é isso que significa “viver na Doutrina”. Meu amigo Jonathan sugeriu que é disso que os índios norte-americanos querem dizer quando falam em “Caminhar na Beleza”. Não sei. Palavras são inadequadas. Estar aqui é melhor.


[CORREÇÃO: Conforme eu reconstruía o dia da foto de Polidoro, percebi que o rosto dele não é assim tão queimado de sol. Por volta de uma hora antes ele estivera brincando no mato alto e havia mexido em uma colméia. Levou nove picadas, incluindo uma no rosto. Mesmo assim ele sorria para a câmera e achava que a natureza era "melhor". Que cara fantástico!

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A foto acima mostra as costas dele.]

1 comment:

Unknown said...

thank you very much for the texto and FORTALEZA imagens.You are very nice writer.

Carla Santos
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