Saturday, November 1, 2008

O VINHO DAS ALMAS


Um novo filme do Santo Daime por Michael Ende e editado por Luis Eduardo Pomar

Recém lançado!

Depois de quatro anos de produção e algumas reedições, o documentário "O Vinho das Almas, Uma Peregrinação ao Coração do Santo Daime, na Floresta Amazônica" acompanha seis estrangeiros em suas andanças em busca de cura, auto-conhecimento e experiências místicas. Eles fazem uma peregrinação descendo o Rio Juruá em direção a região aonde o líder do Santo Daime, Alfredo Gregório de Melo viveu a sua infância e estabeleceu uma comunidade no meio da floresta.

Câmera Viva, 2008 - 57 minutos.

Um filme de Michael Ende, editado por Luis Eduardo Pomar e consultoria de Bia Labate.

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Wednesday, October 22, 2008

PARTILHANDO A DOUTRINA MUSICAL
UM PRESENTE ESPECIAL DA FAMÍLIA GRANJEIRO


(Traduzido por Daniel Duende, coordenador do Global Voices em Português)


Antônio Gomez: "Meu Divino Pai Eterno"

No domingo passado a comunidade do Santo Daime de Brasília foi agraciada pela visita da Madrinha Adália Gomes Grangeiro, seus filhos e filha, e sua comitiva, para cantar "O Amor Divino", o hinário de Antônio Gomes, que foi um dos companheiros espirituais do Mestre Irineu. Madrinha Adália é a zeladora deste belo hinário.


Antônio Gomez: "Este Rei Que Aqui Está"

Eu escreví previamente sobre a doutrina musical da religião do Santo Daime, que é baseada no canto de "hinos recebidos", em vez de um texto escrito que esteja codificado e congelado em um livro. Os cantores e os musicistas de uma família são como uma escola em movimento, e são recebidos com alegria e gratidão por onde passam. Há aproximadamente um mês, quando a família Granjeiro estava apenas começando a sua viagem pelo Brasil, ele fizeram uma pssagem por Brasília, no Ser Divino, para apresentar o hinário de Francisco Granjeiro Filho, que era o neto de Antônio Gomez.


Francisco Granjeiro Filho: "O Jagube Está Aí"

Após a sessão espiritual, alguns membros da família nos presentearam com um pouco do tradicional forró do Nordeste Brasileiro, a região de nascimento do Mestre Irineu. Ao ouví-los, é fácil entender por quê a música dos Granjeiros é aclamada em todo o Brasil.



O interessante é que a música e o ritmo do forró tradicional são facilmente combinadas com os hinos do Santo Daime. Aqui está Guilherme Granjeiro, trazendo a mágica de seu acordeon ao canto e à dança de alguns dos hinos da Nova Jerusalém do Padrinho Sebastião, no aniversário do Padrinho Luiz Mendes em 2007.



É através desta maravilhosa mistura musical de cultura, religião e das famílias do Santo Daime que uma grande tradição se espalhou pelo Brasil e pelo mundo. Nós recebemos o presente dos Granjeiros com os corações cheios de gratidão, alegria e apreciação, e nõs estamos gratos por todas as igrejas e famílias de Juramidam.

Viva! a Família Granjeiro.

Viva! o ALTO SANTO.

Viva! a Família de Sebastião Mota de Melo.

Viva! o CEFLURIS.

Viva! a Família de Luiz Mendes.

Viva! o CEFLI.

Viva! toda a Família de Juramidam.

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Monday, August 18, 2008

Encontro do Santo Daime:
Family, Familia, aniversários e alegria no Ceu de Fatima.

(Traduzido por Marco Aurelio Chibiaque)

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Na semana passada retornei a grande São Paulo para me econtrar com a família de Luiz Mendes, que estava voltando do Canada, e para comemorar o aniversario de vários irmãos do Santo Daime na igreja de Araçoiaba da Serra.

O dia 8 de agosto foi aniversario da igreja e da Madrinha Rizelda. O dia começou numa loja de flores.

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Fazendo a escolha para compor a decoração festiva da igreja

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O trabalho spiritual foi aberto pela Mad Fatima e pelo Pad Sidney

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E Pad Luiz

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Começamos executando o hinario de Joao Pereira, comandado por Saturnino, que é o zelador deste hinário.




e continuamos no interval, com as diversoes do Mestre.




Depois, cantamos o hinario de Saturnino. Este é o hino “somos todos iguais” que se tornou um simbolo de amizade.




A festa continuou depois do trabalho, com bolos e festas.

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Entao houve um Forro com o Pad Luiz e Madrinha Rizelda nos mostrando como se faz.

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Quando a tarde caiu o Padrinho Luiz, que é famoso na doutrina do Santo Daime como um contador de estórias, estava contando uma muito boa para Alessandra.

Aqui vai uma sequencia que nos dá uma boa noção.



Como a comitiva retornou para a Vila Fortaleza no Acre, eu fiquei na residência da Mad Fatima e do Pad Sidney continuando a minha visita com a família e também para me consultar, com o Pad Sidney e sua filha Alessandra, que são médicos, completando o meu minucioso check up as 70 anos de idade.

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(Fico feliz em dizer que as coisas vão bem.)

No final da minha maravilhosa semana de visitas, houve mais uma grande festa, aniversario da Mad Fatima.

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As festas se iniciaram na execucao do hinario de Antonio Gomes (o Bisavo da esposa de Saturnino, Lusirene). Este e o hino “A Rainha da Floresta.”




E entao parabens e vivas para a Madrinha



E cantando “esta e a casa de nossos festivais”




E, claro, outro bolo.

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Sim, o Santo Daime é a casa de nossos festivais, sendo sempre muito bom dividir as alegrias desta família incrível. No primeiro trabalho do festival eu tirei uma fotografia de Ana Paula, que aguardava feliz.

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E agora nos damos as boas vindas ao novo membro da família Juramidam. Bem Vindo Miguel! E parabéns Ana Paula, Charley e Mariana.

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VIVA MIGUEL!

VIVA MIGUEL!

VIVA MIGUEL!


Veja todas as fotos de fevereiro AQUI

Veja todas as fotos de agosto AQUI

Veja todas as fotos de Miguel AQUI

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Monday, July 28, 2008

Do Coração da Divina Luz


O verdadeiro amor
É uma grande Luz Divina
É a estrela cintilante
O farol que ilumina...

Divina Luz é ainda uma de minhas casas-longe-de-casa no Brasil. Retornar a ela é... bem, como voltar pra casa.

Eu tenho uma enorme gratidão à Madrinha Conceição e sua família que dirige o espaço eclético do Centro Livre Divina Luz em Brasília. Aqui, um verdadeiro amor é muito presente junto com a querida memória do Padrinho Daltro, que pensávamos ter perdido, mas que ainda continua em nossas mentes nos assistindo com seu amoroso coração.

Nessa noite alguns de nós se reuniram para copartilhar os hinos do Ronaldo, que carrega a magia do Mapiá e da floresta pelo mundo.

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Eu juntei alguns fragmentos de vídeos...



E assim decretamos nosso próprio amor

pelo Padrinho Sebastião,

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pelo Padrinho Daltro,

Pd Daltro Rays

e pelo Mestre Irineu.

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Aqui um pequeno show de slides da noite.






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Saturday, July 12, 2008

Um Festival de Santos e Santo Daime

(Traduzido por Guilherme Barellos)

Ceu do Planalto
Brasilia, Brazil
12 Junho - 6 Julho 2008

Estive em Brasília em uma maravilhosa reunião com meus amigos do Céu do Planalto, a comunidade do Santo Daime onde eu primeiro aterrisei no Brasil.

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Minha primeira conexão veio vários anos atrás através de uma amiga do Oregon que me entregou na amizade e casa de José Murilo. Aqui também achei o portão para o mundo do Santo Daime no Brasil -- uma abertura que me levou a um eterno encontrar de tesouros de amigos e lares em muitos lugares, e criar este blog pra contar as histórias.

Tem sido muito especial passar o Festival deste ano entre amigos queridos em Brasília, longe do ambiente original do Santo Daime, onde um grande estudo está acontecendo no qual pessoas modernas e trabalhadoras estão aprendendo a incorporar a vida espiritual aprendida da Rainha da Floresta enquanto no centro da capital modernista e ativa da capital do maior país da América do Sul.

Os Festas de Juninas, como são conhecidas, acontecem em muitas matizes culturais em todo Brasil.

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Pintura por Gervásio


Eles estão centrados nas festas dos santos: Santo Antônio (guardando o lar e a família), São João Batista (abrindo a porta da transformação), São Pedro (construindo a comunidade espiritual) e, no Santo Daime, há o dia em memória para Santo Irineu (o fundador da missão)

Uma Grande fogueira é o ponto central para a maioria das festas.

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Há uma lenda interessante sobre a fogueira. Apesar de que ninguém sabe se é verdade, a estória conta que durante a gravidez de Maria com Jesus, ela aprendeu a profecia que foi recebida por Isabel, que esperava João Batista. Maria viajou até os montes sobre Nazaré para visitá-la para conversar sobre suas experiências e intuições. Isabel, com seu primeiro bebê, contou a profecia que um tempo de grandes tranformações na terra começaria com o nascimento de João e seria continuado já que tanto ele quanto Jesus abririam uma nova luz no mundo.

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Isabel disse que deixaria Maria saber sobre o nascimento de João através de uma grande fogueira que seria acesa em sinal de que a transformação havia começado. Atualmente há muitas festas tradicionais no Brasil que incluem fogueiras para celebrar a eterna oportunidade para a transformação humana, especialmente durante as festas de junho.

Este ano o Festival começou com a noite de Santo Antônio e o casamento de Ken e Shobam.

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Depois a comunidade ficou muito feliz em receber o Padrinho Alfredo e comitiva de cantores e músicos que voltavam do exterior e estavam en route para suas casas na floresta, centro do Santo Daime no Amazonas.

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Cantar a Oração do Padrinho Sebastião com a família é sempre um presente especial.




Algumas noites depois celebramos a Noite de São João mas eu estava tão ocupado com meu próprio processo de transformção (Ufa!) que nem levantei a camêra. Desculpem, sem fotos desta noite, apenas uma nota de gratidão por ter podido clarear coisas muito velhas como resultado do ritual.

Depois veio o 83º aniversário da Madrinha Rita (viúva do Padrinho Sebastião e matriarca da linha familiar)

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Foto de Junho 2005

E depois a noite de São Pedro onde a jovem e linda Irene recebeu sua estrela começando assim sua jornada pessoal no caminho do Santo Daime.

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Foi boom ver a Ana na alegria de esperar o nascimento de sua primeira criança.

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Os caras se vestiram para uma noite fria de inverno.

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De manhã houve celebrações dos aniversários de Clarice, Ricardo e Irene.

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Os hinos do Padrinho Alfredo foram cantados, terminando com "Meu Deus, Meu São João"



As crianças estão maiores a cada ano.

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Helena and Isabel

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Tiago and Cintia

O Festival oficial de junho termina no começo de julho com uma cerimônia comemorando o presente de Mestre Irineu cantando o hinário do Tetéo, que termina dizendo que o poder do Santo Daime não é "força pequena"



É claro, não palavras adequadas para dizer tudo. Acho, por mim, que algumas fotos dos rostos felizes podem contar melhor a história.

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Era aniversário da Lidia

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Jesus é o rosto feliz servindo o Daime

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Val e Neia

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Ken e Fernando Luis

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Marina e Marcelo

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Ricardo disseminando notícias do Salve o Urubú, a rede local para conservação da bacia.

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Manuel e Caetano

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Vanesa


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Luz matutina no final do Festival. Bom Dia e Parabéns

Mais fotos do Festival aqui.




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Thursday, May 29, 2008

O Daime, Caetano & Gil

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Juarez Duarte Bomfim
L.E. Pomar Visual Blog



link para o post original

Por Juarez Duarte Bomfim

O jornalista Carlos Marques, atualmente consultor da Unesco e residente em Paris, estava com 20 anos de idade quando a direção da revista Manchete decidiu destacá-lo, na companhia de um fotógrafo, para uma reportagem sobre a distante Rio Branco, capital do Acre, no ano de 1969. [1]

Entre os vários entrevistados, Marques conversou com o bispo italiano Giocondo Maria Grotti, que dois anos depois (1971) morreria durante acidente aéreo no município de Sena Madureira.

Ao ser perguntado sobre os problemas que enfrentava na região, o bispo reclamou da Doutrina do Santo Daime, fundada pelo negro maranhense Raimundo Irineu Serra.
Marques decidiu conhecer o Mestre Irineu Serra, que trabalhava no roçado de sua propriedade quando o jornalista foi visitá-lo.

- Aquele encontro foi a experiência mais marcante de minha vida. O mestre Raimundo disse que sabia que eu chegaria e estava me esperando. Disse o meu nome, que eu havia sido libertado recentemente da prisão e que eu tinha uma cicatriz na perna.

Marques contou, ainda, que passou três dias no Alto Santo e tomou Daime, mas não revela detalhes de sua experiência.

- Ele me disse que um dia eu voltaria ao Acre, mas jamais acreditei nessa possibilidade.

Quando se despediu do Mestre Irineu Serra, inusitadamente o mesmo lhe ofereceu uma garrafa de Daime com a recomendação para ele tomar o seu conteúdo com amigos sensíveis. [2]

De volta ao Rio de Janeiro, Carlos Marques entrega a garrafa e o seu conteúdo ao compositor tropicalista Gilberto Gil, a descrevendo como “uma beberagem indígena sagrada que produzia visões deslumbrantes e estados de alma elevadíssimos”. [3]

Naquele mesmo dia Gilberto Gil tomou uma dose da bebida, e logo após foi para o Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, pegar a ponte aérea para São Paulo.

Já no saguão do Aeroporto de Congonhas, São Paulo, onde ocorria a inauguração de uma exposição militar, da FAB - Força Aérea Brasileira - o efeito do Daime começou a se manifestar, e Gil “captara conteúdos indescritíveis na presença dos militares”. [4]

Era época de Ditadura Militar e a classe artística e intelectual brasileira estava sendo duramente perseguida, os próprios artistas baianos Gil e Caetano seriam logo após presos e “convidados” a se retirarem do Brasil.

Sob efeito do Daime Gilberto Gil sentiu glauberianamente “como se tivesse entendido o sentido último do momento de nosso sentido como povo, sob a opressão autoritária”.. . e mesmo sob o medo que então os militares provocavam.. . sentia que podia “amar, acima do temor e de suas convicções ou inclinações políticas, o mundo em suas manifestações todas, inclusive os militares opressores”. [5]

A mensagem crística chegava assim ao coração do artista, apesar de todas as perseguições e temores: “Amai a vossos inimigos”.[6] Era o Daime operando…

Depois dessa experiência solitária no vôo Rio-São Paulo, Gilberto Gil reúne um grupo de amigos no apartamento do compositor Caetano Veloso e propõe que todos fizessem uma “viagem” em conjunto. Seguindo a recomendação do Carlos Marques, Gil serve a cada um dos presentes pouco mais de meio copo.[7]

Conta Caetano: ” a beberagem espessa e amarelada tinha gosto de vômito, mas não me causou náuseas”.[8] A partir daí, a verve inspirada do poeta baiano transmite um interessantíssimo depoimento das visões e percepções do que via e sentia, da vida que percebia nos objetos inanimados, “a história de cada pedaço de matéria” de um prosaico carpete de náilon do seu apartamento, por exemplo…

Ao som do rock progressivo do Pink Floyd, no limite exíguo do vigésimo andar de um edifício paulistano, dá-se o experimento:

“Sandra (mulher de Gil) entrava e saia do quarto do som com os olhos duros e o rosto sério. Ela estava assustada. Eu a achava parecida com um índio. Gil estava com lágrimas nos olhos e falava alguma coisa sobre morrer, ter morrido, não sei. Dedé (mulher de Caetano) circulava pela sala dizendo que se via a si mesma em outro lugar. Eu fiquei muito feliz de observar que as pessoas eram tão nitidamente elas mesmas… Uns pontos de luz coloridos surgiram no espaço ilimitado da escuridão… Formas circulares eram compostas por lindos pontos luminosos dançantes. Aos poucos eu sabia quem era cada um desses pontos luminosos. E em breve eles de fato se mostravam como seres humanos. Eram muitos, de ambos os sexos, todos estavam nus e tinham aspecto de indianos. Essas pessoas dançavam em círculos de desenhos complicados, mas eu não só podia entender todas as sutilezas dessa complicação como tinha tranqüila capacidade de concentração para saber sobre cada uma das pessoas tanto quanto eu sei de mim mesmo ou de meus próximos mais amados”.[9]

É dito que da(s) experiência(s) com o Daime, particularmente experiências pico como esta, de Gilberto Gil (”Gil… falava alguma coisa sobre morrer, ter morrido”..) surgiram belíssimas canções do seu cancioneiro, tal como “Se eu quiser falar com Deus”.



“Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz

Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou

Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar

Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada , nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar “[10]


Em êxtase Caetano mirava os seus “anjos indianos” nessa “experiência celestial”.

“Eu alternava - com abrir e fechar os olhos - observação do mundo exterior e vivência desse mundo de imagens que se tornava cada vez mais denso… aos poucos eu reconhecia que os seres vistos com os olhos fechados eram indubitavelmente mais reais do que meus amigos presentes no quarto do som ou as paredes desse quarto e os tapetes”.[11]

Com a consciência expandida pela miração, Caetano conhece outra concepção de espaço, diferente da corriqueira e “precária convencionalidade” ; o “tempo era igualmente criticado por essa instância mais alta em minha consciência lúcida: com benevolência e sem nenhuma angústia, eu sabia que o fato de estar vivendo aquele momento era irrelevante diante da evidência de que eu já tinha - ou teria - nascido, vivido e morrido - e também jamais existido -, embora a percepção do meu eu naquela situação fosse uma ilusão inevitável”.[12]

O artista santamarense continua inspiradamente a narrar a sua experiência - da qual recomendamos a leitura atenta, pois não é possível transcrevê-la toda aqui - e quem discursa é também o antigo estudante de filosofia da Universidade da Bahia: diante da representação da “idéia de Deus” diz não saber se teve “o súbito retraimento de quem aprendeu que a face do Criador não pode ser contemplada. ..” Surge então a dúvida no coração de quem vivenciava um extraordinário momento extático, e ao ser levado por Dedé para se olhar no espelho do banheiro, ver seu rosto “de sempre” após toda essa experiência… passou então a ter a certeza “de que estava louco”. Porém “esse eu que tinha tal certeza era como que indestrutível: esse não fica louco, não dorme, não morre, não se distrai”…

Quão bela experiência.. . vemos que foi revelada a Luz do Daime a este sensível poeta e compositor baiano e o merecimento de se ver como espírito, a vislumbrar a sua essência - que é Divina, como a de todos nós.

Inebriado do divino e maravilhoso que é Deus, brincando com as dúvidas filosóficas a la Rogério Duarte, futuro devoto hare krishna: “Eu não creio em Deus, mas eu vi!” ou ‘É óbvio que Deus não existe, mas a inexistência de Deus é apenas um dos aspectos de sua existência”… parodiando Nietzsche Caetano vai bradar para todo o Brasil: “Deus está solto!” sob as vaias da apresentação festivalesca do seu “É proibido proibir”.

Dessa vivência transcendental, Caetano reflete assim: “… por mais de um mês eu me senti vivendo como que um palmo acima de tudo o que existe. E por mais de um ano certos resquícios específicos se mantiveram. Na verdade, algo de essencial mudou em mim a partir daquela noite”.



“Quem é ateu e viu milagres como eu
Sabe que os deuses sem Deus
Não cessam de brotar, nem cansam de esperar
E o coração que é soberano e que é senhor
Não cabe na escravidão, não cabe no seu não
Não cabe em si de tanto sim
É pura dança e sexo e glória, e paira para além da história

Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia
Xangô manda chamar Obatalá guia
Mamãe Oxum chora lagrimalegria
Pétalas de Iemanjá Iansã-Oiá ia
Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia
Obá

Quem é ateu…”

(Milagres do Povo Caetano Veloso)[13]


Voltando ao comecinho da nossa história… pois não é que o jornalista Carlos Marques retornou ao Acre após quase 40 anos? Ao final de uma audiência com o então governador Jorge Viana, este perguntou ao jornalista se ele já conhecia o Acre. Marques contou o que já narramos, e para sua surpresa o governador Jorge Viana mostrou ao jornalista o convite que recebera para participar dos festejos dos 50 anos de casamento do Mestre Raimundo Irineu Serra com a Madrinha Peregrina Gomes Serra, dignatária do Centro de Iluminação Cristã Luz Universal - CICLU Alto Santo, no dia seguinte, 15 de setembro de 2006. E convenceu o jornalista a permanecer mais um dia no Acre.

Marques reencontrou a Madrinha Peregrina Serra, viúva de Irineu Serra, a quem pediu desculpas pelo conteúdo ofensivo que sua reportagem ganhou na edição da revista Manchete, pois esta publicou então várias páginas com a reportagem, onde prevaleceu na edição a versão do bispo de que se tratava de uma seita diabólica. “Foi a primeira entre tantas a desagradar Irineu Serra e seus seguidores”.[14]

- Eu não podia revelar que havia encontrado Deus - disse Carlos Marques.
Na noite de 30 de abril de 2008, na sede do CICLU Alto Santo, foi realizado um evento oficial no qual a Fundação Elias Mansour do Estado do Acre, Fundação Garibaldi Brasil do município de Rio Branco e representantes dos centros que integram os três troncos fundadores das doutrinas ayahuasqueiras (Santo Daime, Barquinha e União do Vegetal), que solicitaram ao ministro Gilberto Gil, da Cultura, que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) instaure o processo de reconhecimento do uso da ayahuasca em rituais religiosos como patrimônio imaterial da cultura brasileira.

O evento foi prenhe de êxito e um marco histórico do universo ayahuasqueiro brasileiro. No discurso de encerramento desta função religiosa de 30 de abril de 2008, já sem a presença das autoridades constituídas (ministro, governador, secretários de estado e políticos em geral), o orador oficial do CICLU - Alto Santo lembrou da singela história do jornalista Carlos Marques, concluindo que (palavras minhas, registro de memória): o Mestre Irineu, sabedor do passado, presente e futuro do jornalista Carlos Marques, excepcionalmente presenteou o jornalista com uma garrafa de Daime para que este a fizesse chegar as mãos do cantor Gilberto Gil, que a tomasse e conhecesse, para que, passados quase 40 anos, viesse ao Alto Santo na condição de ministro de Estado interceder por tornar a ayahuasca patrimônio imaterial da cultura brasileira.

Mestre Irineu (cropped)

VIVA! MESTRE IRINEU! VIVA!

[1] As informações a seguir foram extraídas de MACHADO, Altino. 40 anos depois. Disponível em
http://altino. blogspot.com/2006/09/40-anos-depois.html
Acesso em 15 de Setembro de 2006.

[2] Discurso do jornalista Antonio Alves na sede do CICLU Alto Santo em 30 de maio de 2008.

[3] VELOSO, Caetano. Verdade tropical. São Paulo, Cia das Letras, 1997, p. 308.

[4] Ibidem, p.308.

[5] Ibidem, p. 308.

[6] Lucas 6:27.

[7] Dizem os antigos que esta era a recomendação do Mestre irineu.

[8] VELOSO,, 1997, p. 322.

[9] VELOSO, 1997, p. 324.

[10] Ouçam Se Eu Quiser Falar Com Deus - Elis Regina - Capela Disponível em http://br.youtube.com/watch?v=tWuQc7W0O-A
Acesso em 26 de maio de 2008.

[11] VELOSO, 1997, p. 324.

[12] Ibidem, p. 324.

[13] Ouça o Vídeo Clip Milagres do povo - Daniel Mercury. Disponível em http://www.losacordes.com/videoclip/daniela-mercury/milagres-do-povo Acesso em 26 de maio de 2008.

[14] MACHADO, Altino. 40 anos depois. Disponível em
http://altino.blogspot.com/2006/09/40-anos-depois.html
Acesso em 15 de Setembro de 2006.


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