Wednesday, April 23, 2008

Santo Daime: A Doutrina Musical

(Traduzido por Marco Aurelio Chibiaque)

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Saturnino cantando um hino após um trabalho spiritual na Vila Fortaleza.

Ao contrário das doutrinas escritas e codificadas em livros, a doutrina do Santo Daime é musical. Mas o que quer dizer isso?



Esta é uma pergunta bastante difícil de responder, e eu nem tentaria. Mas gostaria de mostrar uma idéia através das imagens que capturei com minha câmera na Flor do Céu, durante o retiro espiritual que ocorreu em fevereiro de 2008, em Santa Luzia, Minas Gerais.

Meu amigo José Murilo escreveu um pequeno texto sobre a musicalidade da doutrina, no qual ele aponta que, apesar do recebimento de canções e chamados musicais ser uma experiência shamanica e oasqueira comum, ela adquiriu no Santo Daime a qualidade de formar comunidades – avançando de passo-a-passo, de uma grande experiência interior, para relações, daí para uma partilha maior entre um e outro e finalmente para uma forma cerimonial ritualizada. Desta maneira, os hinos são normalmente um veículo para levar a força da floresta do interior para as cidades maiores, e vice versa. Através da execução e partilha da música, relações são construídas e se estabelece uma harmonia que cria uma força ou sinergia coletiva que é muito maior do que qualquer indivíduo envolvido e mais do que a mera “soma das partes”.

Esta é Zuleide, responsável pela cozinha este ano, cantando enquanto trabalha. De fato, me parece que Zuleide passa a maior parte de seu tempo cantando e trabalhando com uma incansável energia positiva. Era comum encontrá-la sozinha na cozinha, firme em seu trabalho, enquanto cantava e talvez flutuava em suas boas memórias e pensamentos. Neste dia eu perguntei se poderia fazer alguns vídeos enquanto ela trabalhava. Depois eu tomei a liberdade de inserir algumas imagens que “talvez tenham se passado por sua mente”.



Geri e Gerismar são filhos de Zuleide. Eles viajam com a família de Luiz Mendes como músicos da comitiva. Apesar de eles conhecerem os hinos “de cor e salteado”, acabam por praticar os hinos quase todos os dias, aperfeiçoando a habilidade de trabalhar juntos. Quando os irmãos se juntam para tocar, as pessoas são atraídas para o local como abelhas ao mel.



Normalmente na viagem para outras igrejas, existe um ensaio especial para compartilhar os hinos locais com os visitantes da floresta. Desta forma, a doutrina vai se envolvendo em todas as direções, através da comunhão da música. Esta é a comitiva reunida para aprender os hinos de Ademir, que é um dos músicos oficiais da Flor do Céu. É um luxo poder ouvir a maneira como Jacqueline da Bélgica, a comitiva da Amazônia e os rapazes de Minas Gerais, Europa e Estados Unidos estão desenvolvendo juntos a doutrina musical. (São partes de dois hinos neste vídeo).



No final, toda esta relação musical se transforma numa experiência ritual formalizada na qual vozes, corpos, instrumentos musicais e ensinos formam um desempenho perfeito, que transcende qualquer indivíduo.



O hino, recebido por Saturnino, é o Pequenininho, que diz:

Pequenininho, pequenininho

Pequenininho para seguir no caminho

Grande na alegria

Grande na verdade

Grade na harmonia

Grande na humilidade

Pequenininho, pequenininho

Pequenininho para seguir no caminho

Grande na firmeza

Grande no amor

Grande na certeza

Do nosso pai criador

Pequenininho, pequenininho

Pequenininho para seguir no caminho


NOTA: Talvez você tenha percebido algumas novas técnicas e uma melhoria na resolução destes vídeos? Isto porque meu grande amigo Juba (Luis Eduardo Pomar) tirou um tempo de sua apertada agenda para me ensinar alguns truques de edição de vídeo. Muito obrigado Juba! Não deixe de visitar o blog visual dele. É uma beleza.

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